Hoje vou compartilhar com vocês uma experiência que vai ajudar a todos nós e ao meio ambiente.
Minha esposa sempre fez sabão das sobras de óleo. Já é costume nosso. A gente vai guardando o óleo em recipientes e quando tem uma quantidade boa, a gente processa e faz o sabão de soda. Além de ser um produto muito bom para lavar louça e chão, a gente acaba contribuindo para a preservação do meio-ambiente.
O processo é bastante simples. Vou passar a receita para processar 6 LT de óleo. Primeiro separe os ingredientes: 2 LT de água, 6 LT de sobra de óleo (coado), 1 kg de soda cáustica e 3 LT de álcool. Tem gente que coloca detergente ou sabão em pó, mas eu não gosto... Se você está fazendo sabão e coloca sabão, fica meio sem graça (risos).
Vamos ao modo de preparo: Coloque a água para ferver (70 graus Celsius). Antes de levantar fervura, retire do fogo e adicione a soda cáustica (Muito cuidado nesta hora, pode ocorrer pequenas explosões de gases nessa fase do processo). Fique mexendo até que a soda derreta. Depois de dissolvida, adicione o óleo de cozinha e nunca deixe de mexer. Quando a mistura estiver homogênea, acrescente o álcool lentamente, continue mexendo por uns 30 minutos. Esse tempo na verdade é muito relativo. Sempre fizemos a mesma receita e nunca o sabão fica igual ao outro. Tem algum mistério que ainda não descobri qual é.
Vou relatar o fato que aconteceu na última vez que fomos fazer o tal sabão e vocês ajuda a gente entender melhor o que ocorreu. Tem alguns segredos que já descobrimos. Por exemplo: Não usar nada de metal (qualquer metal) nem a vasilha nem a colher que for mexer. Dependendo do metal, pode acontecer uma reação química muito forte e acidentes sérios podem ocorrer. Usamos sempre vasilha de plástico resistente e colher de madeira.
Vamos aos últimos acontecimentos: Comprei o álcool (3 LT) no posto de gasolina (de sempre) e separamos o óleo já coado juntamos 6 Litros de óleo. Colocamos a água (2 LT) para esquentar. Desligamos o fogo e transferimos a água quente para a vasilha de plástico e adicionamos a soda cáustica... Meu Deus do céu! Aí começou o nosso transtorno. Eu sabia que este momento era crítico, mas tinha algo muito estranho. À medida que íamos acrescentando a soda, dava cada explosão que subia até o teto. Minha esposa já deu o grito:
- Meu DEUS do céu! Você comprou a soda SOL? (Outro segredo... Se não for a tal soda SOL, não funciona).
- Comprei mulher! Fica calma que é normal, deve ser o álcool que deve estar com octanagem muito alta. Tentei explicar o processo para ela de forma mais científica. Quem sabe ela ficasse mais calma...
- Amor... O processo é seguro. É apenas uma hidrólise alcalina de um óleo (glicerídeo). Dizemos que é uma hidrólise em razão da presença de água (H2O) e que é alcalina pela presença da base NaOH (soda cáustica). Isso tudo aquecido resulta num produtos da reação de Saponificação: sabão e glicerol (álcool). Entendeu?!
- O que você está falando? Essa “coisa” vai explodir!
Continuei mexendo e a mistura foi acalmando. Esquentou tanto que achei que a vasilha de plástico ia derreter. Começamos a colocar o óleo e a “coisa” virou bicho novamente. Parecia um vulcão em erupção. Pensei em desistir, estava apavorado mas não tinha como voltar a traz.
Foi aí que minha esposa foi na folhinha (calendário) e deu um grito:
- HOJE É LUA NOVA! VAI DESANDAR.
Não entendi nada e continuei mexendo. Na minha cabeça procurava entender onde a lua encaixava na equação química...

Fizemos tudo que estava ao nosso alcance e conhecimento para acalmar a criança: Colocamos mais água, mexemos mais rápido, mais devagar, para direita, para esquerda, pra frente e pra trás. Cantamos ponto de umbanda e até reza fizemos e nada... Em um determinado momento quando fomos revezar na labuta, eu deixei cair uma boa quantidade da reação na minha perna. Saí correndo para lavar. Estava de bermuda. Quando joguei água e passei a mão para tirar, os pelos da perna saíram junto. E começou a arder. Esfreguei bastante e joguei muita água. Estava na batalha tentando me livrar do sofrimento quando minha esposa deu outro grito:
- COMEÇOU A MUDAR DE COR!
Eu não sabia se isso era uma boa ou má notícia.
Cheguei rápido para ver o que estava acontecendo e ela estava muito suada de tanto labutar. Trocamos de lugar novamente e ela toda animada:
- Tá quase chegando ao ponto. Olha só a cor como está boa! Agorinha ele endurece e pode parar.
Ficamos nesta labuta umas duas horas até que ele não endureceu, mas a Osmarina estava vendo que estava bom. Paramos e deixamos a reação descansar e a gente também. No final deu tudo certo, mas até hoje não entendi essa reação tão extrema. Mas na dúvida vamos consultar a lua toda vez. Só não sabemos exatamente qual é a lua boa. Se na nova aconteceu isso tudo imagina o que não vai acontecer na cheia!
Araticum-Cagão
Cagaita